quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Encontro de Jesus com Nicodemos



"a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz"

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 3, 1-21)

Esse texto bíblico conta a história de um encontro muito marcante. Esse encontro aconteceu entre Jesus e Nicodemos. 

Nicodemos era um homem muito importante, um dos grandes mestres da sinagoga, príncipe dos judeus. Naquele tempo os fariseus perseguiam Jesus, querendo encontrar um motivo para prendê-lo e matá-lo. Nicodemos fazia parte deste grupo, mas pensava diferente. Ele se espantava com as coisas que Jesus falava... se impressionava com os milagres que fazia... e não via a hora de estar com Ele. Tantas perguntas ele queria fazer a Jesus... tantas dúvidas queria esclarecer! Sabia que Jesus era um homem santo e abençoado por Deus. Mas como? Ele era um fariseu. Como se aproximar de Jesus, sem se comprometer?

Até que não resistiu mais. Numa noite, ele soube que Jesus estaria reunido com seus discípulos bem próximo a sua casa. Nicodemos então se armou de toda a coragem, calçou suas sandálias, cobriu o rosto com seu manto e saiu pelos becos escuros, escondido nas sombras. O vento soprava forte, a lua se refletia nas paredes das casas... não encontrou ninguém pelo caminho. Ele caminhou rápido, de cabeça baixa. Enfim, chegou à casa, bateu à porta e entrou. Lá está Aquele Homem... quem seria Ele, afinal? Esta noite ele iria descobrir.

Alguns dos presentes ficaram espantados com a chegada de Nicodemos. Olhares se cruzavam, fazendo a mesma pergunta: o que ele quer aqui? Nicodemos nem se deu conta das reações que sua chegada provocou. Só tinha olhos para Jesus... Sentou-se a um cantinho e ficou ouvindo as palavras d'Ele. Ficou tão embevecido com o que escutou que numa certa hora disse a Jesus:  “Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele.” (Jo 3, 2) 

Jesus, que sempre enxergava além das aparências, viu dentro de Nicodemos o grande desejo de conhecimento e respondeu assim: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.” (Jo 3, 3)

Neste momento o coração de Nicodemos, homem instruído, membro do Sinédrio, Doutor da Lei, bateu forte... Ficou confuso, não sabia o que pensar. Durante tantos anos estudou as Escrituras, ensinou na Sinagoga... e nunca tinha ouvido nada parecido com aquilo!!! Ele era um homem letrado, já de certa idade, tinha barba grande e branca e, no entanto, falou a Jesus como se fosse um menino, ingênuo: "Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?" (João 3, 4)

Eu consigo imaginar o cenário que se criou: todos ali, em volta de Jesus e Nicodemos, espantados ao escutar palavras tão inocentes de um homem tão importante! Muitos podem ter sentido menosprezo, outros podem ter tido risos de sarcasmo... mas Jesus não! Jesus o amou e o acolheu, sem sarcasmo, sem ironia... e revelou para ele mais um segredo: "Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus." (Jo 3,5)

Jesus, naquela noite, revelou para Nicodemos que ser religioso nem sempre significa ser conhecedor das verdades de Deus... Nesta noite muito provavelmente Nicodemos nasceu de novo... teve um renascimento espiritual. Nicodemos aprendeu com Jesus que não importava a sua situação social, seu status. Se não renascesse espiritualmente nunca conheceria os mistérios do Espírito de Deus.

Procuro me colocar na situação de Nicodemos. Como deve ter sido difícil para ele - um judeu fariseu - compreender o sentido espiritual das palavras de Jesus! Como entender que o Reino de Deus é algo interior, que nasce, em primeiro lugar, no coração? Ele estava tão acostumado à rigidez da Lei, aos rituais externos do judaísmo que não conseguia pensar com o coração... 

Não é difícil imaginar a confusão interior que as palavras de Jesus provocaram em Nicodemos naquela noite... Todo o seu racional e todo o seu emocional estavam em estado caótico. E esse é o momento em que Deus age. Foi assim no Princípio. A terra estava sem forma, vazia, era o caos. E Deus a criou. Assim Deus fez com Nicodemos... do seu caos interior, do seu vazio espiritual Deus fez uma nova obra - uma nova criação, um renascimento. 

Naquela noite Nicodemos entendeu a diferença entre religiosidade e fé - uma fé verdadeira, que nos leva a adorar a Deus em espírito e verdade.

Naquela noite, Nicodemos foi até Jesus impressionado pelos milagres que Ele fazia. O que chamou a atenção dele foram as coisas externas, que somente os olhos materiais vêem. Mas diante de Sua presença entendeu algo muito maior. Entendeu que o Espírito de Deus é capaz de fazer uma obra nova no seu coração. É capaz de fazer nascer um novo ser.

As palavras de Jesus, naquela noite, não foram só para Nicodemos. São também para nós, hoje. Quantas vezes nos comportamos como ele: percorremos, em nossas noites escuras, um caminho incerto em busca de alguma luz... é uma busca ansiosa, já que nos sentimos inconformados com muitas situações que vivemos. 

Quantas vezes chegamos diante de Jesus com perguntas ingênuas, até mesmo tolas... diante dos mistérios da vida, da religião? Quantas vezes chegamos diante d'Ele com o coração confuso, num verdadeiro caos interior, presos a culpas, ressentimentos, mágoas, pecados que não somos capazes de abandonar? É nesta hora que devemos nos tornar como crianças e nos entregar nas mãos de Deus, humildes, informes, vazios... e nos deixar ser por Ele recriados, refeitos. Ao reconhecermos que estamos vazios espiritualmente, Deus nos molda e nos dá um novo pensar, um novo agir, um novo falar. É o encontro das trevas com a Luz. Nossas trevas e a Luz de Jesus - para nós que buscamos e cremos. 

Que a exemplo de Nicodemos tenhamos a coragem de sair pelos becos escuros e tenebrosos de nossas dúvidas e questionamentos, à procura de Jesus - não atrás dos milagres que Ele pode fazer, mas atrás do Reino de Deus que dever ser buscado em primeiro lugar. Que não nos baste a nossa religiosidade, o nosso conhecimento teológico, nosso cumprimento dos rituais. Que nunca deixemos de buscar o novo nascimento. Que nunca sejamos conformados com este mundo, mas sim transformados pela renovação de nosso espírito, para que possamos discernir qual é a vontade Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito (cf. Rm 12, 2).



Nenhum comentário: